Você já olhou para uma ação e pensou: “essa varia demais”? Ou então: “essa empresa parece que é mais previsível que as outras, andando sempre junto com o mercado”?
Pois é. Existe uma medida técnica que ajuda a medir exatamente isso: o Beta.
Mas calma, não precisa sair correndo achando que vem fórmula física por aí. O Beta das empresas é, basicamente, um número que mostra o quanto o preço de uma ação costuma oscilar em relação ao mercado.
Em outras palavras: ele acaba sendo um “termômetro de risco” que mostra se a ação é mais nervosa ou mais tranquila comparada a um determinado índice de referência. No caso do mercado brasileiro, utilizamos o Ibovespa).
E por que isso importa?
Simples, porque entender o Beta te ajuda a montar uma carteira que combina com o seu perfil de investidor e é também um dos pilares da educação financeira. Então, se você quer mais segurança e menos oscilação, talvez seja melhor fugir das empresas com Beta alto. Em contrapartida, se você aguenta ver muito “sobe e desce” e está disposto a correr maior risco por um maior retorno, pode ser que um Beta elevado esteja mais alinhado com a sua estratégia.
Neste artigo, você vai entender:
- O que é o Beta de uma ação;
- Como calcular o Beta (de forma descomplicada, de verdade);
- O que um Beta alto ou baixo realmente significa;
- Como usar o Beta para tomar decisões mais inteligentes nos seus investimentos.
É importante que você desmistifique o conceito de Beta e entenda que ele pode e deve fazer parte das suas análises. Afinal de contas, mais importante do que só buscar o lucro, é entender o risco que você está assinando embaixo.
1 – O que é o Beta e o que ele mede, na prática?
Para entender o funcionamento desse termômetro que é o Beta, imagine que você está num carro, dirigindo por uma estrada cheia de curvas. O mercado financeiro é essa estrada, cheia de altos e baixos, como se fosse a serra a caminho para Ubatuba. Agora imagine que cada ação que você investe é um passageiro.
Alguns ficam quietinhos durante o trajeto inteiro, sem se mexer muito. Outros se sacodem o tempo inteiro a cada curva, como se estivessem em uma prova de motocross. Nesse cenário, a gente chama de Beta a forma de medir o quanto esse passageiro se mexe em relação ao carro. Trazendo isso para o mercado financeiro: o quanto um determinado ativo se “chacoalha” em relação ao próprio mercado.
Tecnicamente, o Beta mede o risco sistemático, ou seja, aquele risco que não dá pra diversificar. É o risco que vem do próprio comportamento do mercado, como crises, euforias, choques macroeconômicos, tarifas ou políticas que são impostas sem aviso prévio e por aí vai.
Pra ficar mais claro:
- Beta 1,0 = A ação oscila igual ao mercado. Se o Ibovespa sobe 2%, a ação tende a subir 2%.
- Beta > 1,0 = A ação é mais volátil que o mercado. Se o Ibovespa sobe 2%, a ação pode subir 3% ou mais, mas também cai mais quando o mercado cai.
- Beta < 1,0 = A ação é mais estável. Se o Ibovespa sobe 2%, a ação sobe talvez 1% — e também cai menos nas quedas.
- Beta negativo = A ação tende a se mover na direção contrária ao mercado. É raro, mas pode acontecer, principalmente com setores muito específicos ou em momentos atípicos.
Mas isso não quer dizer que o Beta deve ser encarado como uma nota “boa ou ruim” para uma certa empresa. E ele não diz se a ação vai subir ou cair.
O papel dele, é só mostrar o quanto o preço de um ativo é sensível ao movimento do mercado, como uma bússola. Ele não mostra o destino final, igual um GPS, mas avisa o lado para que você está se dirigindo.
2 – Como o Beta é calculado (sem complicar sua vida)
Agora que você já entendeu o que o Beta representa, talvez esteja se perguntando: “mas como é que se chega nesse número?” A resposta envolve estatística. Mas, fique tranquilo porque a gente deu uma facilitada para que ficasse mais fácil de entender todo esse conceito, que não é nenhum bicho de sete cabeças. Vamos lá.
O Beta é calculado a partir de uma fórmula que envolve dois conceitos principais: covariância e variância.
Variância
A variância nada mais é do que uma medida de quanto o retorno de um ativo varia em relação à sua média. Uma alta variância, quer dizer que o ativo não se movimenta junto com o mercado.
Covariância
Já a covariância mede o quanto dois ativos se movimentam juntos. No caso do Beta, a gente está comparando a ação com o mercado. Uma alta covariância quer dizer que o ativo se move junto com o mercado.
Fórmula do Beta
Traduzindo, quanto mais a ação se movimenta junto com o mercado, ou seja, possui uma alta covariância, e quanto menor for a variação isolada do mercado, ou seja, possui uma baixa variância, maior será o Beta da ação.
Mas… calma. Você não precisa calcular isso manualmente.
Tem várias plataformas online que você pode encontrar o Beta calculado automaticamente de cada ação, incluindo o site da B3. Essas plataformas já mostram o Beta de cada um desses ativos, com base nos últimos meses e até mesmo anos de comportamento.
O importante aqui é entender o que esse cálculo quer dizer:
- Se o retorno da ação seguir os movimentos do mercado de forma intensa, o numerador da fórmula (a covariância) será alto.
- Se o mercado é muito estável (variância baixa), qualquer coceira que acontece no papel vai resultar num Beta alto.
- E se a ação vive uma realidade própria, desconectada do índice, o Beta tende a ser menor — ou até negativo.
Esse cálculo costuma ser feito com base em dados históricos, geralmente dos últimos 24 a 60 meses, comparando o retorno da ação com o retorno do Ibovespa (no caso do Brasil).
Um exemplo rápido:
Imagina que a ação da empresa X teve uma variação média mensal de 4%, enquanto o Ibovespa variou 2%. E, em geral, quando um subia, o outro também subia, e vice-versa. O resultado seria um Beta em torno de 2,0. Isso mostra que a ação amplifica os movimentos do mercado, tanto para cima como para baixo.
3 – O que é considerado um Beta alto, baixo ou negativo?
Agora que você entendeu como o Beta é calculado e o que ele mede, vamos pra parte prática: como interpretar esse número na hora de investir. O que fazer com ele?
Aqui vão as interpretações mais comuns.
Beta entre 0,8 e 1,2
Esse é o intervalo onde a maioria das ações do mercado costuma ficar. São empresas que andam mais ou menos no ritmo do Ibovespa, com oscilações parecidas com o mercado como um todo.
Geralmente essas empresas já são consolidadas, com presença setorial forte, mas que ainda assim respondem bem às condições macroeconômicas, como bancos.
Beta acima de 1,2
Aqui a gente já começa a ver alguns papéis mais “agitados” da bolsa. Como vimos acima, as ações com Beta alto tendem a amplificar os movimentos do mercado. Então, se o índice sobe, elas sobem ainda mais. Em contrapartida, se o índice cai, elas acabam despencando.
Essas empresas geralmente pertencem ao setor de empresas de crescimento, ligadas à tecnologia, inovação, construção civil ou mercados mais cíclicos.
Um bom exemplo disso é o Bitcoin e as criptomoedas. Um ativo extremamente volátil que, mesmo com seu valor, acaba tendo quedas e altas absurdamente amplificadas.
Beta abaixo de 0,8
Ações mais “comportadas”. Mesmo quando o mercado está animado, essas empresas sobem pouco. Mas na hora do aperto, elas caem menos também. São vistas como mais defensivas.
Aqui entram setores como utilidades públicas (energia elétrica, saneamento), empresas com contratos de longo prazo ou negócios muito previsíveis e até alguns bancos grandes também.
Beta negativo
Esse é mais difícil de se ver, mais raro. Um Beta negativo indica que a ação tende a se mover no sentido oposto ao mercado. Se o Ibovespa sobe, ela tende a cair e vice-versa.
Na teoria, seria um bom ativo para proteger a carteira em tempos de crise. Na prática, pode indicar uma empresa altamente específica, ou com uma dinâmica própria (por exemplo, ações de ouro, dólar ou fundos atrelados à proteção).
4 – Como usar o Beta na prática: decisões de carteira e perfil de risco
Tá, você entendeu o que é o Beta, como ele é calculado e o que ele representa. Mas a pergunta que interessa de verdade é: e aí, o que eu faço com essa informação?
A resposta depende basicamente de uma coisa: o seu perfil de investidor.
Se você é mais conservador e se sente desconfortável com oscilações grandes, provavelmente vai querer montar uma carteira com ações de Beta mais baixo, que tendem a cair menos em períodos de crise, mesmo que isso signifique abrir mão de resultados mais altos em momentos de mais euforia.
Agora, se você tem perfil mais agressivo, lida bem com volatilidade e está investindo pensando em multiplicar capital a longo prazo, sem necessariamente ficar olhando para a tela toda hora, pode alocar parte do portfólio em empresas com Beta mais alto, sabendo que o sobe-e-desce será maior, mas o retorno potencial também.
Aqui vai um exemplo simples de como aplicar isso na prática. Suponha que você tem:
- 30% do seu portfólio em ações com Beta entre 1,0 e 1,2 (andam junto com o mercado);
- 20% em ações com Beta mais alto, tipo 1,5 ou 2,0 (empresas de crescimento, mais voláteis);
- 20% em empresas com Beta mais baixo, tipo 0,6 (como elétricas ou saneamento);
- E o restante em renda fixa ou fundos cambiais para segurar a onda em tempos de instabilidade.
Esse é apenas um exemplo, mas serve para demonstrar que existe possibilidade de adquirir um certo equilíbrio na sua carteira. Você pode mesclar risco e estabilidade, e ajustar conforme seu momento de vida, objetivos e tolerância emocional.
Você também pode usar o Beta também ajuda em decisões como:
- Rebalancear a carteira em momentos de crise ou euforia;
- Comparar empresas do mesmo setor com perfis de risco diferentes;
- Entender se o “susto” que você levou com uma ação foi culpa dela… ou do mercado.
Por fim, vale lembrar: o Beta é só uma ferramenta que te ajuda a olhar para a volatilidade com mais clareza. Mas ele não substitui, de forma alguma, uma análise fundamentalista, estudo setorial ou acompanhamento macroeconômico.
Ele é tipo um velocímetro: não diz nada sobre o motor, só se está acelerando demais ou não.
5 – Limitações do Beta e o que mais considerar na análise de risco
Até aqui, deu pra perceber que o Beta é uma ferramenta poderosa. Mas como toda ferramenta, ele tem limites e, se você usar errado, pode acabar martelando o dedo em vez de construir alguma coisa útil.
Primeira limitação: o Beta olha só pro passado
O cálculo do Beta é feito com base em dados históricos, geralmente dos últimos 2 a 5 anos. Ou seja, ele te mostra como a ação se comportou em relação ao mercado no passado, E, claro, retorno passado não garante retorno futuro.
Se a empresa passou por uma reestruturação, mudou de setor, fez fusões ou sofreu impactos pontuais (como a pandemia ou eventos políticos), o Beta pode não refletir mais a realidade atual.
Segunda limitação: ele mede intensidade, não direção
O Beta mostra o quanto o preço da ação varia em relação ao mercado, mas não diz se a empresa é boa ou ruim, se vai subir ou cair. Uma ação com Beta 2,0 pode ser de uma empresa excelente, ou de uma bomba-relógio.
O que ele mede é a relação com o índice de referência — não fundamentos, não governança, não perspectivas de lucro.
Terceira limitação: não considera eventos não sistêmicos
O Beta se concentra no risco sistemático, aquele que afeta o mercado como um todo. Mas não captura os riscos específicos de uma empresa: fraudes, má gestão, escândalos, mudanças regulatórias setoriais, etc.
Outros indicadores que vale olhar junto com o Beta
Volatilidade histórica: mostra o quanto a ação oscilou nos últimos meses.
Valor em risco (VaR): usado por alguns fundos e bancos pra estimar perdas potenciais.
Alavancagem financeira: empresas com dívidas altas tendem a ser mais sensíveis a juros e crises.
Liquidez da ação: ações pouco negociadas podem ter Betas distorcidos e variações bruscas por falta de volume.
O Beta é uma bússola, não um oráculo
Se tem uma coisa que você deve levar neste artigo é a seguinte: o Beta não prevê o futuro, ele só te ajuda a entender o terreno onde você está pisando.
Mas esse “só isso” pode ser justamente a diferença entre montar uma carteira que combina com você ou cair em armadilhas de volatilidade que você não estava preparado para enfrentar.
Saber o Beta das empresas onde você investe é como saber o clima da cidade onde vai correr uma maratona. Não define se você vai ganhar ou perder, mas te permite escolher a roupa certa, o ritmo certo e se vale a pena entrar na corrida ou não.
Lembre-se que o lucro é importante, mas entender o risco que você está assumindo é o que separa o investidor comum do investidor de sucesso. Esperamos que ese post tenha ajudado! Até breve, equipe Três Centavos.